segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ritmo de marcha revela saúde do idoso


Especialistas defendem que análise da caminhada passe a ser um dos sinais vitais verificados em consultas, como pressão e respiração

Cérebro, coluna, nervos, músculos, articulações. Coração e pulmões. Juntos, e funcionando bem, são eles que permitem o caminhar ereto, ritmado de tantos idosos. Mas se o complexo sistema não vai bem, os pés arrastam-se, a coluna dobra, o movimento é cada vez mais lento.


Médicos defendem que a velocidade de marcha também seja considerada um medidor de saúde durante o envelhecimento, tão relevante quanto outros quatro sinais vitais já avaliados nas consultas: pressão, frequência respiratória, temperatura e massa corporal. Perder a velocidade dos movimentos é um sinal natural de diminuição da vitalidade, de saúde deficiente em diferentes espécies, mas muitos especialistas não levam isso em conta.

Em trabalho publicado no fim de 2009 na revista científica Journal of Nutrition, Health and Aging, membros de uma força-tarefa da Academia Internacional de Nutrição e Envelhecimento apontaram, após revisão da literatura, que a velocidade de marcha é um instrumento eficiente para prever expectativa de vida, surgimento de incapacidade física, necessidade de hospitalização, quedas e demências. Justamente por ser a expressão da interação de diferentes órgãos e estruturas do corpo. Segundo o estudo, uma velocidade de marcha menor do que 0,6 m/s deve ser considerada extremamente preocupante. Entre 0,6 a 1 m/s, a situação é regular. E acima de 1 m/s, normal.

"O andar é fundamental para o bem-estar. Todo mundo que já quebrou a perna sabe o quanto é ruim. As pessoas se preocupam com o idoso, mas não com sua mobilidade", afirmou ao Estado Stephanie Studenski, professora da divisão de Medicina Geriátrica da Universidade de Pittsburgh (EUA) e uma das maiores autoridades mundiais em mobilidade de idosos. Ela esteve no 17.º Congresso Brasileiro de Geriatria, no mês passado, em Belo Horizonte.

Anormalidades na marcha podem indicar, por exemplo, o avanço de uma doença que já acomete o idoso, como uma cardiopatia, ou então um ou vários problemas de saúde desconhecidos que demandam investigação, como artrite, doenças pulmonares, distúrbios da visão ou causados pela diabete. Mesmo a depressão pode levar um idoso a arrastar-se. Além disso, a velocidade da marcha revela o consumo de energia dos velhos, o que ajuda predizer sua capacidade de cumprir tarefas cotidianas.

Sobrevida. Um grupo chefiado por Stephanie e que trabalha para o Serviço Nacional de Envelhecimento do governo americano aprofunda a pesquisa sobre a relação entre a velocidade de marcha e a expectativa de vida. As análises apontam que uma velocidade de 0,6 metros/s estaria relacionada, por exemplo, a uma sobrevida de não mais do que cinco anos. Por outro lado, aqueles que, por meio de intervenções, aumentam a velocidade, vivem mais. "Os médicos não dão atenção à marcha porque ainda aprendemos tudo separadamente", diz a médica. O próximo passo é chegar a um teste universal para medir a velocidade no consultório (ao lado, um dos testes possíveis).

"A marcha é fundamental, mas os médicos estão mais preparados para avaliar a de uma criança", afirma Alexandre Kalache, que dirigiu por 13 anos o Programa Global de Envelhecimento da OMS. Segundo o geriatra Emílio Moriguchi, ex-diretor do centro colaborador da OMS para prevenção de doenças associadas ao envelhecimento, uma série de pesquisas no Japão relaciona a marcha à idade biológica desde os anos 70.

"A velocidade de marcha é um indicador sentinela de que algo não vai bem e deve ser investigado", diz a fisioterapeuta Mônica Perracini, diretora científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. "Mas a sociedade ainda acha que é aceitável o idoso andar devagar. Um idoso curvado foi por muito tempo usado até na sinalização do metrô."