quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Eficientes, mas perigosos. Cuidados com medicamentos à base de corticoides.
Médicos advertem pacientes sobre os riscos do uso indiscriminado de medicamentos à base de corticoides. Mesmo que sejam de fundamental importância para o tratamento de asma, urticária e doenças crônicas, eles só devem ser indicados por especialistas
Usar medicação à base de corticosteroides sem acompanhamento médico pode trazer uma série de preocupações e problemas extras ao paciente que trata de inflamações, alergias e sintomas autoimunes. Presente desde pomadas para irritações na pele, bombinhas para asma, comprimidos para tratamento de urticárias até doenças crônicas relacionadas ao sistema imunológico, os corticoides são considerados fármacos de rápida resposta, essenciais em tratamentos de imunossupressão(1). No entanto, especialistas alertam sobre a necessidade do acompanhamento médico para quem toma esse tipo de medicação, responsável por diversos efeitos colaterais. “Quando usado pelo tempo certo, em dose e potência corretas, o corticoide é eficiente e preciso. Não é preciso ter medo”, afirma Marly da Rocha Otero, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia no Distrito Federal.
No entanto, devido à facilidade de compra, sem necessidade de receita médica, várias pessoas fazem uso prolongado da medicação. “Qualquer coceira vira motivo para comprar uma pomada, comprimidos são usados para alergia respiratória sem critérios, entre outros casos, mas isso é um erro”, explica a médica. A analista de contas Lenna Cristalino dos Santos, 40 anos, fez uso de prednisona durante 10 dias sem recomendação médica para tratar de urticárias que apareceram no corpo. “Fui ao pronto-socorro depois de cinco dias de coceira e ardência na pele. Mas não tenho certeza do que causou o problema”, conta Lenna.
Ela afirma que o médico prescreveu uma injeção — aplicada no momento da consulta para diminuir a reação — e comprimidos de prednisona a serem administrados por cinco dias. “O efeito foi rápido. Como ainda restavam algumas erupções, resolvi tomar o remédio por mais tempo. Não sabia que isso poderia me fazer mal. Em nenhum momento fui informada que não deveria prolongar o tratamento, nem pelo médico nem pelo farmacêutico que me vendeu o remédio.”
Segundo Priscila Parente, farmacêutica clínica, a administração de corticoides para casos de inflamação e alergias não deve ser prolongada. Tomar remédios além do tempo estipulado, como Lenna fez, pode ser perigoso. “É importante seguir à risca o que foi prescrito. Tratamentos desse tipo não costumam ultrapassar os 10 dias de medicação. Em emergências, alguns médicos receitam o corticoide para aliviar sintomas rapidamente. Mas é essencial que a paciente procure um profissional após isso, com o objetivo de identificar o porquê da irritação na pele.”
Aparências
Para Priscila, prolongar a medicação pode ser grave, já que provavelmente ela não está tratando o motivo da alergia ou da inflamação, apenas diminuindo os sintomas. “O paciente precisa de um atendimento individualizado. Nenhum medicamento vai ser isento de efeitos colaterais e só um profissional pode avaliar qual é aquele que melhor vai se adaptar ao tratamento.”
Um dos riscos do uso incorreto de corticosterides está no fato de que a medicação pode confundir o sistema imunológico, a longo prazo. Essas substâncias são sintetizadas a partir do hormônio cortisol (veja arte), produzido pela glândula suprarrenal. Quando a medicação é administrada por mais de um mês, por exemplo, essa glândula pode entender que não é mais necessário produzir sua cota do hormônio.
Natasha Ferraroni, alergologista e imunologista, explica que ao parar o tratamento, o paciente vai ter o chamado efeito rebote, decorrente do uso incorreto de corticoides. “A doença pode voltar repentinamente porque o sistema de defesa do corpo fica debilitado. A pessoa fica suscetível a inflamações, e infecções podem ocorrer sem apresentarem sintomas”, explica Natasha.
1 - Indispensável
Ums das principais aplicações dos corticoides é provocar a imunossupressão (ato de reduzir a atividade ou eficiência do sistema imunológico) em pacientes transplantados. Nesses casos, o sistema imunológico está tentando se defender contra alvos existentes no próprio indivíduo. A medicação vai reduzir os sintomas de autoimunidade e o organismo para de combater o problema. A imunossupressão é geralmente feita para diminuir rejeição a transplantes de órgãos, tratamento de reações alérgicas ou doenças autoimunes.
Medicação controlada
As especialistas ressaltam a importância do acompanhamento médico em casos em que é necessário o tratamento prolongado com remédios que contenham corticosteroides. “As taxas de sódio, potássio, cálcio e glicose ficam irregulares com a presença do corticoide no organismo. Alguns pacientes, inclusive, podem apresentar arritmias, aumento de peso e processo de cicatrização deficiente, além do afinamento da pele. Isso ocorre quando são usadas pomadas e cremes à base de corticoide”, explica Priscila Parente.
Segundo ela é importante ter acompanhamento médico para auxiliar na redução dos efeitos negativos da medicação sem que o portador de doenças crônicas, transplantados e pacientes oncológicos sofram com reações adversas. “Dentre os imunossupressores, o corticoide é um dos mais indicados e com menos efeitos colaterais. Quando o paciente tem acompanhamento de qualidade e não toma medicação indevidamente, com suplementos para equilibrar as taxas de sódio e potássio, controle de glicose, por exemplo, é possível garantir sua qualidade de vida”, afirma a farmacêutica.
A aposentada Iza Akemi Yossugo, 55 anos, fez transplante de rim há 10 anos e desde então precisa tomar prednisolona (fármaco derivado da prednisona, do grupo dos anti-inflamatórios esteroides) para reduzir a possibilidade de rejeição. “Nunca tive efeitos fortes. Meu volume de pelos pelo corpo aumentou um pouco e tenho sensação de inchaço constante. Fora isso, está tudo normal”, conta Iza.
Diabética e hipertensa, Iza integra um grupo de risco para uso de corticosteroides, já que o medicamento pode alterar os níveis de pressão arterial e de glicose. Mas ela afirma que cuida da saúde com rigor e não faz nada sem que seu médico saiba. “Faço check-up há cada três meses desde o transplante. Minha glicose, colesterol, hipertensão, taxa de cálcio e pressão intraocular estão todos em níveis saudáveis”, revela a aprosentada. (RP)
É essencial que o paciente procure um profissional após isso (reações) com o objetivo de identificar o porquê da irritação na pele”