sexta-feira, 15 de abril de 2011

Obama enfrenta o setor farmacêutico


A indústria farmacêutica americana reagiu contra o plano de Barack Obama para redução do déficit, advertindo que suas propostas inibirão avanços da medicina e prejudicarão as empresas do setor. Um alto executivo disse que o discurso do presidente levantou questões fundamentais sobre as perspectivas para o setor nos EUA.


A reação sinalizou que terminou a trégua de fato entre a poderosa indústria farmacêutica e a Casa Branca, estabelecida durante as negociações para aprovar a reforma do setor de saúde, em 2010.

Obama disse em discurso anteontem que o "poder de compra" do Medicare (programa de saúde público para idosos), deve ser usado para cortar gastos com a compra de medicamentos vendidos mediante receita médica e para estimular a entrada de marcas genéricas mais baratas no mercado.

A observação - apenas uma frase num discurso com uma hora centrado na redução do déficit - soou como retórica agressiva à indústria farmacêutica, que apoiou a iniciativa de Obama, no ano passado, de reformar o setor de saúde.

"Infelizmente, a abordagem do presidente para redução do déficit desconsidera o impacto sobre toda a costura política, local e federal, que influencia a saúde atual e futura de nosso setor", disse John Castellani, presidente da PhRMA, entidade representativa do setor. "Especificamente, propostas para ampliar descontos, onerar idosos com prêmios mais elevados e reduzir o nível de privacidade sobre dados biológicos são ruins para os pacientes e ruins para a inovação".

A PhRMA disse que o plano de impor "controle de preços" vai desacelerar o ritmo de inovação em medicamentos e de gastos em pesquisa e desenvolvimento, e que melhores medicamentos reduziriam hospitalizações e baixariam os custos com a saúde.

O setor farmacêutico recebeu a fala de Obama como uma ameaça à cláusula de "não ingerência" constante do marco regulatório para medicamentos no âmbito do Medicare, que proíbe o governo de manipular preços no setor.

David Brennan, diretor-executivo da AstraZeneca, disse à TV CNBC ontem que estava otimista em relação ao mercado farmacêutico americano até o discurso de Obama. "Alguns comentários [de Obama] não asseguram o tipo de arcabouço político que estamos buscando para integração, por isso estamos mais preocupados", disse.

Como parte de um acordo acertado a portas fechadas em 2010, negociadores do setor concordaram em oferecer US$ 80 bilhões em descontos sobre preços de medicamentos consumidos por pacientes idosos e em pressionar ativamente pela reforma da saúde. Em troca, foram retiradas do debate propostas de alguns democratas que reduziriam os lucros do setor.

A Casa Branca já enfrentou um adversário político difícil no setor de seguros, que pressionou contra a reforma da saúde. O risco de o governo enfrentar agora reação similar das grandes farmacêuticas cria novos problemas políticos.

Obama defendeu ainda fortalecer o Independent Payment Advisory Board, criado no ano passado na reforma da saúde para reduzir o crescimento dos gastos com o Medicare e proibir as farmacêuticas "de marca" de negociar os chamados acordos de "pagamento por adiamento" com fabricantes de genéricos para que estas conservem seus produtos fora do mercado. O plano de Obama prevê economia de US$ 200 bilhões com a saúde em 10 anos.