quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Roche monta estratégia da Bioimagene para o Brasil
Farmacêutica investe em tecnologia de diagnósticos e impulsiona área de oncologia
Na última semana de agosto a indústria farmacêutica suíça Roche
acertou a aquisição da americana Bioimagene, especializada em
telepatologia, diagnósticos digitais de tecidos humanos, técnica
utilizada para detectar doenças como o câncer. A conclusão do negócio estipulado em US$ 100 milhões é esperada para os próximos
dias. Há dois anos, a Roche adquiriu a também americana Ventana, produtora de equipamentos automáticos para estes mesmos exames, posicionandose assim como uma das principais fornecedoras globais de tecnologia para laboratórios de patologia. A equipe brasileira da Roche já traça os planos para a América Latina desta nova área de negócios da companhia. Liliana Perez, diretora da Roche Tissue Diagnostics, divisão
criada no ano passado para atuar no segmento, relata que existem
na América Latina um total de 250 laboratórios de patologia, sendo que 110 são brasileiros. ?A meta é instalar nossos equipamentos em aproximadamente 50% destes laboratórios até 2015?, diz a executiva. O universo apontado por Liliana corresponde a laboratórios que realizam
acima de dez exames diários. Mas a empresa terá que concorrer com a dinamarquesa Dako, que fornece equipamentos automatizados, e com a americanaAperio, de telepatologia. Liliana avalia que a Roche levará
vantagem por ser a única a disponibilizar as duas linhas de produto. Os equipamentos de automatização substituema tradicional biopsia realizada manualmente por patologistas em microscópios. A automatização é capaz de oferecer um diagnóstico em três horas, enquanto o resultado de umexame pelo sistema manual não chega ao paciente em menos de dois dias. O laboratório, porém, precisa fazer
um investimento de US$ 100 mil para automatizar seus processos.
Desde o ano passado, quando iniciou a comercialização destes equipamentos, a Roche fechou 14 contratos na América Latina, sendo dois no Brasil. A aquisição da Bioimagene permitirá à Roche oferecer uma
linha de equipamentos complementares, capazes de escanear o
diagnóstico e o transmitir eletronicamente ?Significa dizer que um diagnóstico realizado em qualquer canto pode ser analisado
imediatamente por especialistas nos principais centros de
conhecimento do mundo?, diz a executiva. Até hoje, a tecnologia
da Bioimagene só estava disponível nos Estados Unidos por um
preço próximo aos US$ 150 mil.A Roche ainda não definiu o valor
de venda naAmérica Latina. ?
Diagnóstico viabiliza venda de medicamentos
Muito mais que a busca de resultados operacionais com a venda de tecnologia para exames de patologia, a aquisição da Bioimagene e da Ventana cumpre uma função estratégica na Roche, fortalecer e difundir no mundo a prática de exames apurados para a detecção do câncer. O
grupo farmacêutico tem na venda de medicamentos para oncologia
53% de sua receita global. O problema deste segmento de negócios é que envolve produtos caros que normalmente são financiados por governos ou planos privados de saúde. Segundo Fernando Loureiro,
diretor de acesso a mercados e políticas públicas da Roche, o diagnóstico preciso do câncer permite a recomendação adequada do medicamento que fará o efeito desejado. Sem isso, a chance de sucesso é de apenas 30% . ?Se criamos as condições para tornar mais efetivo o uso de nossos medicamentos, seu custo passa a ser mais palatável para
os financiadores e melhora a qualidade de vida do usuário?, diz .
A mesma lógica já é empregada pela Roche em outros segmentos
de mercado. A empresa atua há mais de 70 anos na área de tecnologia e reagentes para diagnósticos de análise clínica. Apenas no Brasil, o negócio gerou um faturamento de R$ 408 milhões para a companhia no
ano passado, tornando-a uma das principais empresas do setor, que faturou R$ 1,2 bilhão no país, segundo a Câmara Brasileira de
Diagnóstico Laboratorial. D.Z.
?O diagnóstico correto permite a recomendação do medicamento adequado, o tratamento é mais efetivo e o custo do produto mais palatável para o financiador Fernando Loureiro, diretor de acesso a
mercado da Roche.
Fonte: Valor Econômico