quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Hospitais se preparam para entrar na Bolsa de Valores


Depois dos planos de saúde suplementar, o mercado de saúde deve ter uma segunda onda de aberturas de capital. Agora será a vez dos hospitais, que buscam consolidação para a entrada nesse mercado.

Atualmente, porém, há restrições legais para aberturas de capital no setor. Apenas os planos de saúde têm permissão legal para entrar na bolsa.

"Os prestadores não são autorizados, portanto laboratórios de análises clínicas, de diagnóstico de imagem e hospitais não têm essa possibilidade", explica o sócio responsável pelo atendimento do setor de saúde da Deloitte, Enrico de Vetori.

A mudança na regulamentação ainda esbarra em entraves políticos. Para ele, essa avaliação vem de boa parte dos grupos hospitalares que, motivados pela possibilidade de receber capital estrangeiro, temem pela concorrência do mercado nacional.

"Por isso, há hoje uma tendência de consolidação das redes hospitalares. Talvez, depois disso, os grupos venham a entrar com seu ‘capital político' para a aprovação da mudança na regulamentação."

O interesse em ampliar investimentos no setor hospitalar é uma tendência global. Segundo Vetori, seis países concentram a atenção dos estrangeiros no mercado de saúde. "Atualmente, o dinheiro escoa para Brasil, Índia, China, México, Turquia e Coréia do Sul", cita.

Para o vice-presidente da Rede D'Or, José Roberto Guersola, o interesse em manter a proibição ativa também tem viés político.

Para ele, o atual governo entende que o sistema de saúde não deve ter capital estrangeiro. "Há uma grande pressão partidária contra a mudança dessa regulamentação."

O executivo acredita que nenhum dos candidatos à presidência é claramente favorável à modificação. "Não faz diferença sobre qual candidato ganhe."

Ainda assim, Guersola entende que a alteração na regulamentação do setor é inevitável. "É um caminho natural. Acredito que leve mais dois anos para que a mudança ocorra."
Mesmo com a legislação ainda indefinida, as redes hospitalares estão em busca da consolidação. "A rede já está bem próxima da estrutura ideal para abrir o capital", diz Guersola.

Recentemente, o grupo adquiriu o hospital São Luiz, em São Paulo, ampliando sua atuação para além das fronteiras do Rio de Janeiro e de Pernambuco. O negócio é fruto de uma parceria entre o banco BTG Pactual e a rede carioca de hospitais.

E a empresa analisa o mercado em busca de novas oportunidades. Há três meses, a rede adquiriu o Hospital Brasil, em Santo André, e no último final de semana, o Hospital Assunção, em São Bernardo do Campo. O valor da negociação foi mantido sob sigilo.

Apesar da intenção de abertura de capital, Guersola afirma que a rede "está gostando do mercado do jeito que está". "O estrangeiro chegará com muita capacidade de investimento e dificultará a concorrência", afirma o executivo.

A consolidação também é o objetivo do Grupo Saúde Bandeirantes, que afirma estar investindo para melhorar as diretrizes de governança, padronização de preços e qualidade.

Marcelo Medeiros, diretor-executivo do Grupo, afirma que a gestão hospitalar tem sido falha no país, o que tem levado pequenos hospitais à bancarrota. Isso vem abrindo novas oportunidades de aquisição.

O Grupo está em busca de novas unidades. Na semana passada, foi anunciado o investimento de R$ 54 milhões na construção de uma nova ala no Hospital Bandeirantes.

No ano passado, a rede inaugurou o hospital Leforte, na Zona Sul de São Paulo, cuja construção custou R$ 45 milhões à empresa.

A rede também não descarta a construção de novos hospitais, em vez da aquisição de unidades já prontas.

"Hoje é muito difícil encontrar hospitais que não estejam endividados. A utilização de mão-de-obra intensiva e o avanço de tecnologias não substitutivas levaram a maior parte deles a dívidas gigantescas", lembra Medeiros.

fonte: Valor Econômico