sábado, 26 de fevereiro de 2011

Natura pode produzir fora para atender o Brasil


A Natura, fabricante de cosméticos que detém 23,6% de participação no mercado brasileiro de artigos de beleza e higiene pessoal, está preocupada com o custo-país.

O real valorizado, a alta carga tributária e a cara infraestrutura podem levar a companhia a fabricar, no médio a longo prazo, produtos no exterior para abastecer o mercado nacional.

"Está cada vez mais caro produzir no Brasil e é imprescindível garantir uma boa produtividade e um custo satisfatório em um mundo globalizado. Não temos nenhum plano definido até o momento, mas estamos analisando", afirma Alessandro Carlucci, diretor-presidente da Natura.

Da receita líquida de R$ 5,13 bilhões registrada pela companhia no ano passado, R$ 1,5 bilhão foi pago em impostos.

Neste mês, a Natura reajustou seus preços em 5%, mesmo percentual aplicado às tabelas no ano passado. Este repasse está diretamente ligado à alta no preço das matérias-primas, à inflação e ao real mais caro.

"Estamos bastante atentos à questão de custos como o do petróleo, mas está compatível com as questões de custos que esperamos para 2011", diz Roberto Pedote, diretor financeiro da Natura.

Sobre a alta inflação, a direção da companhia admite que há risco deste aumento impactar nas vendas, mas não enxerga o cenário como dramático. "A indústria de cosméticos costuma ir bem em todos os momentos, e as mulheres mantêm as compras mesmo em tempos de crise", diz Carlucci.

Além disso, garante ele, a companhia tem alternativas de preços em todas as suas categorias de atuação.

Atualmente, a Natura só fabrica no Brasil e na Argentina (em uma linha terceirizada). A partir deste ano, também inicia a produção de xampus, maquiagem e perfumes na Colômbia e no México em unidades de parceiros.

"Estamos buscando, preferencialmente, produzir perto do consumidor para reduzir custo e emissão de carbono e acelerar a entrega dos produtos. E isso pode trazer benefícios para o Brasil", afirma Carlucci.

Neste momento, o objetivo é atender os países latinos, com exceção do Brasil. A receita líquida da Natura na Argentina, no Chile e no Peru foi de R$ 255 milhões no ano passado, 17% a mais que em 2009. Neste países, Carlucci diz que a Natura já faz parte da lista das três maiores fornecedoras locais.

Potencial

A companhia já definiu os investimentos para este ano, mas só revela a parte voltada aos imobilizados (terrenos, edifícios e máquinas): R$ 300 milhões, ante os R$_237 milhões do ano passado.

Embora a preferência da marca Natura tenha crescido três pontos percentuais no ano passado e chegado a 49% da população brasileira, sua participação nas vendas totais deste mercado é de 23,6%, um por cento a mais que em 2009.

Isso significa que a companhia ainda tem muito o que crescer. Contudo, o preço, um de seus maiores impeditivos para vender mais, não vai baixar. "A Natura não atua em um mercado massivo e não briga por preço", avisa o presidente.

Neste caso, a companhia teria que partir para novas estratégias como a ampliação da base de consultoras, que fechou 2010 em 1,2 milhão em todos os países de atuação. Outra saída seria atuar em categorias nas quais não está presente hoje, como a de esmaltes.

A Natura, contudo, não gosta da categoria por considerá-la de alto impacto ambiental. Uma terceira alternativa seria investir em novos canais como o de farmácias.