terça-feira, 28 de setembro de 2010

Nestlé vai produzir medicamentos


A Nestlé enfrentará a indústria farmacêutica mundial com seu plano de investir 500 milhões de francos suíços (US$ 510 milhões) para criar uma empresa independente de ciências da saúde voltada ao combate da obesidade e doenças crônicas.
O grupo alimentício suíço anunciou ontem a decisão e indicou Luis Cantarell, um de seus executivos mais experientes, para "desbravar um novo setor entre o alimentício e o farmacêutico", que desenvolverá produtos para combater a diabete, problemas cardíacos e o mal de Alzheimer. [Cantarell trabalha na Nestlé desde 1976 e na função de vice-presidente executivo, desde 2008, cuida da região que abrange Estados Unidos, Canadá, América Latina e Caribe. Ele acumulará os dois cargos. A nova empresa, Nestlé Health Science entra em operação em janeiro.]

A decisão é mais um reflexo da tendência verificada entre as empresas farmacêuticas e alimentícias, que convergem em direção a produtos benéficos à saúde vendidos sem receita médica e com altas margens, tanto para animais como para seres humanos.

"A combinação da economia da saúde, mudanças demográficas e avanços na ciência da saúde mostram que nossos sistemas existentes de assistência médica [...] não são sustentáveis e precisam ser remodelados", disse o presidente do conselho de administração da Nestlé, Peter Brabeck, um dos principais defensores da investida da empresa suíça em direção à nutrição voltada à saúde.

Laboratórios farmacêuticos como Pfizer, GlaxoSmithKline e Sanofi-Aventis dedicam cada vez mais atenção a produtos vendidos sem receita médica, para abrir uma alternativa ao desenvolvimento de remédios tradicicionais, de alto risco.

Recentemente, a Nestlé concluiu a venda da Alcon, sua unidade de produtos oftalmológicos, para a Novartis.

A nova divisão de ciência da saúde, a ser aberta em janeiro, incluirá a atual operação de alimentos voltados à saúde, que em 2009 teve vendas de 1,6 bilhão de francos (US$ 1,55 bilhão).

Ao criar uma subsidiária independente, a companhia pode evitar a ideia de conflito entre seus produtos principais como o chocolate e o combate à obesidade, problema que atualmente afeta um sexto da população mundial.

Alguns analistas são céticos sobre a capacidade da empresa de alimentos para entrar nessa área, levando em conta o tempo que sua arquirrival Danone, da França, precisou para ter um retorno significativo, após investimentos pesados realizados nos últimos anos.

Órgãos reguladores, como a Autoridade de Segurança Alimentar Europeia (Efsa, na sigla em inglês), começaram a impor critérios mais rigorosos para assegurar que qualquer benefício à saúde reivindicado por algum produto seja de fato garantido cientificamente.

A Nestlé sustenta que não é iniciante na área e que desenvolveu rações animais que reprimem o mal de Alzheimer em cachorros. O grupo suíço divulga que seu Pro Plan Senior "é o primeiro e único alimento para cachorros a conter o 'anti age', uma combinação nutricional que melhora a função cognitiva e a atividade mental em cachorros idosos"

Fonte : Valor Econômico