quarta-feira, 6 de julho de 2011

Europa: Farmacêuticas têm menor índice de novos medicamentos da década


A indústria farmacêutica (IF) reduziu os investimentos globais em investigação e desenvolvimento (I&D) e alcançou em 2010 o menor nível de aprovação de novos medicamentos numa década, informa um estudo do grupo Thomson Reuters, citado pelo portal ISaúde.

No ano passado, os gastos com a descoberta e o desenvolvimento de novas drogas caíram 3% em relação a 2009, totalizando 68 mil milhões de dólares. Em 2008 e 2009, a despesa anual das empresas do sector foi de 70 mil milhões de dólares. A principal razão apontada para o decréscimo é o retorno abaixo do esperado na produtividade das pesquisas.

O documento anual "2011 Pharmaceutical R&D Factbook", divulgado a 27 de Junho, é baseado num levantamento feito com grandes empresas responsáveis por cerca de 80% das despesas mundiais de I&D no sector. O estudo revela que em 2010 a IF obteve a aprovação de apenas 21 novas moléculas, contra 26 autorizadas no ano anterior. As perspectivas para os próximos três anos para os lucros do sector são más, uma vez que mais de 110 patentes de drogas devem expirar no mercado dos EUA no período, o que inclui 14 blockbusters.
Fracassos em testes clínicos

Segundo a Thomson Reuters, há um crescente declínio na taxa de sucesso de medicamentos. Entre 2008 e 2010, 55 pesquisas de novos medicamentos foram encerradas na fase 3 dos testes clínicos, mais de o dobro da taxa de insucesso registada entre 2005 e 2007, quando 26 testes com moléculas inovadoras foram abandonados por baixo nível de segurança ou pouca eficiência. Além disso, o volume de drogas que entraram na fase 3 caiu 55% em 2010. Entre as drogas que avançaram em testes para as fases 1 e 2, houve uma queda de 47% e 53%, respectivamente, no mesmo período. Os resultados demonstram a dificuldade das farmacêuticas em desenvolver moléculas que tenham desempenho superior ao das drogas disponíveis no mercado actualmente.

Em entrevista ao jornal britânico The Telegraph, Hans Poulsen, consultor chefe de Ciências da Vida da Thomson Reuters, fez uma previsão sobre as consequências dessa tendência no sector farmacêutico: "A indústria continua a lutar para ser capaz de avançar com novos medicamentos através do ciclo de desenvolvimento, então, há mais insucessos nas fases 2 e 3. Isso significa que deverá haver um atraso na substituição do lucro da indústria que está sendo perdido para os genéricos".

Mais êxito nos próprios laboratórios

Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum a estratégia adoptada por grandes empresas de procurar companhias de menor porte, principalmente de biotecnologia, para licenciar moléculas ou comprar direitos de novos fármacos como forma de minimizar riscos de insucesso de pesquisas próprias. No entanto, mostra o estudo, essa táctica não se tem revelado efectiva na prática, já que moléculas inovadoras originadas nos laboratórios das grandes farmacêuticas têm 20% mais de probabilidade de chegar ao mercado, após superar a fase 3 e a aprovação dos órgãos de controlo.

"Os altos índices de insucesso continuam a ser uma grande preocupação para a indústria e isso é agravado pela diminuição no número de novas moléculas. A estratégia das gigantes farmacêuticas de licenciar mais drogas de terceiros para desenvolvimento parece não estar a ter sucesso no momento. Um esforço antecipado para se livrar de fracos candidatos a drogas será útil para o desenvolvimento bem-sucedido do processo de colocação das drogas no mercado", afirmou o director de produtos da Thomson Reuters, Phil Miller, em comunicado à imprensa.

Avanço nas drogas contra cancro

Apesar do cenário negativo, a área terapêutica de oncologia foi uma das que mais cresceu no ano passado, respondendo por 26% do investimento total em I&D. O segundo sector que apresentou melhores resultados foi o de medicamentos para doenças do sistema nervoso, de acordo com o documento. O levantamento mostrou também que, em 2010, as grandes farmacêuticas – definidas pelo estudo como aquelas que despendem ao menos 2 mil milhões de dólares por ano em I&D – registaram um recorde de vendas, alcançando a marca de 856 mil milhões de dólares. Desse resultado positivo, entretanto, apenas 5% são originários de vendas de produtos lançados nos últimos cinco anos.

O "Pharmaceutical R&D Factbook" mostra ainda que há um movimento de mudança geográfica dos estudos clínicos dos países da Europa Ocidental e da América do Norte para as economias emergentes – principalmente do sudeste da Ásia –, onde os custos são menores e há mais facilidade para recrutar voluntários. Além disso, as agências reguladoras dos países mais desenvolvidos têm ampliado as suas exigências para autorizar a realização dos testes clínicos, aponta o estudo.