quarta-feira, 9 de março de 2011

Indiana Biocon entra na disputa pelo bilionário mercado de insulina


A princípios da década de 70, Kiran Mazumbar-Shaw disse ao pai, mestre cervejeiro da United Breweries, da Índia (que ajudou a elaborar a cerveja Kingfisher) que queria usar seu diploma em zoologia para buscar uma carreira científica. Ele tentou convencê-la a cogitar, em vez disso, entrar no mundo da produção de cervejas. "Eu disse: 'Meu Deus, por que eu iria querer fazer cervejas?'", lembra-se. "Ele disse, 'Não olhe para a fermentação de cerveja como algo menor. Olhe como se fosse uma ciência'".

O conselho acabou se revelando acertado. Hoje, a empresa de enzimas de fermentação que Mazumdar-Shaw fundou em sua garagem em Bangalore em 1978, com 10 mil rupias indianas (na época, cerca de US$ 1,2 mil) cresceu e se tornou a Biocon, maior empresa de biotecnologia da Índia e maior produtora de insulina da Ásia. A Biocon prepara-se para intensificar a concorrência no mercado mundial de insulina, que movimenta US$ 14 bilhões e é dominado pela Novo Nordisk, Sanofi-Aventis e Eli Lilly. A demanda por insulina deverá aumentar 20% até 2015, com o número de diabéticos superando os 285 milhões no mundo, segundo a empresa de pesquisas de mercado RNCOS.

Em outubro, no maior acordo de fornecimento de remédios acertado até hoje na Índia, a Biocon e a Pfizer definiram que a empresa com sede em Bangalore produzirá insulina para o gigantesco laboratório farmacêutico americano, que abandonou o segmento há mais de três anos, após ter de contabilizar encargo de US$ 2,8 bilhões com sua insulina para inalação Exubera. A Biocon fornecerá quatro produtos genéricos de insulina para venda, de início, em países emergentes, como o Brasil e a própria Índia. Posteriormente, as empresas pretendem vender a insulina da Biocon em países desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos. A Pfizer pagou US$ 200 milhões adiantados à Biocon e pagará mais US$ 150 milhões, sob condição de que a Biocon consiga passar por questões de regulamentação e desenvolvimento. "É o casamento perfeito", diz Ranjit Kapadia, vice-presidente de pesquisa institucional da HDFC Securities, em Mumbai. "O acordo abrirá muitas outras avenidas para a Biocon. A Pfizer consegue uma base de produção de baixo custo e eles precisam apenas comercializar os produtos", completa.

A Biocon busca uma pílula de insulina que permitiria aos diabéticos o consumo oral, sem necessidade de injeção
O lucro da Biocon no terceiro trimestre fiscal, encerrado em 31 de dezembro, aumentou 25% em relação ao mesmo período do exercício anterior, e somou US$ 22 milhões. As vendas cresceram 15%. As ações da empresa acumulavam valorização de 52% no ano passado. Até agora, os medicamentos mais vendidos da empresa eram as estatinas, para redução do colesterol. A Biocon também produz remédios para o coração e contra o câncer. A maior parte de sua receita vem dos genéricos. "A insulina se tornará sua maior geradora de receita após o acordo', diz o analista Siddhant Khandekar, da ICICI Direct.

A Biocon também tenta desenvolver uma pílula de insulina que permitiria aos diabéticos o consumo oral, sem necessidade de injeção. A empresa anunciou em janeiro, contudo, que a droga não havia passado em testes para controlar os níveis de açúcar no sangue.

Após o conselho do pai, Mazumdar-Shaw mudou-se para a Austrália em 1974 e matriculou-se no que agora é a University of Ballarat, para estudar a preparação de malte e fermentação. Ela era uma estudante improvável: não bebia álcool antes de ir para a Austrália e era a única mulher no curso. Mazumdar-Shaw formou-se em 1975 entre as primeiras da classe e tornou-se a primeira mulher mestre cervejeira da Índia. Ela conta que quando voltou para casa, as cervejarias não a contratavam por receio de que não poderia dar conta dos horários atípicos dos turnos de trabalho nem dos sindicatos, predominantemente masculinos. Teve de trabalhar como consultora das cervejarias, que não queriam contratá-la em tempo integral.

Mazumdar-Shaw conheceu, então, Leslie Auchincloss, fundador da produtora irlandesa de enzimas Biocon Biochemicals, que lhe propôs formar um empreendimento conjunto com sua firma para vender enzimas industriais a fabricantes de cervejas, alimentos e produtos têxteis na Índia. O trabalho consistia em criar micróbios em grandes tanques, sob condições estritas de pressão e temperatura - da mesma forma que se faz cerveja. "As enzimas são produzidas pela fermentação e a maioria dessas enzimas também é usada na indústria cervejeira", diz Mazumdar-Shaw.

Depois de incorporar a Biocon India em 1978, Mazumdar-Shaw usava sua garagem como escritório e um galpão de 3 mil metros quadrados nas proximidades como fábrica. No ano seguinte, a Biocon começou a exportar enzimas para os EUA e Europa. Em 1996, já fabricava medicamentos genéricos. Hoje, a Biocon emprega mais de 5,3 mil pessoas. Mazumdar-Shaw, de 57 anos, é a quarta mulher mais rica da Índia, com patrimônio líquido de US$ 900 milhões, segundo a revista "Forbes".

"Avaliamos várias empresas antes de concluir que a Biocon era a melhor parceira", diz David Simmons, presidente das áreas de mercados emergentes e produtos estabelecidos da Pfizer. "O envolvimento de Kiran nas negociações foi crucial."

Jornalista: Adi Narayan | Bloomberg Businessweek