segunda-feira, 27 de junho de 2011
Luta contra o câncer aproxima industria farmacêutica
Desde 1998, quando a Genentech, da Roche Holdings, ganhou aprovação para a primeira nova geração de remédios personalizados contra o câncer, os laboratórios farmacêuticos esforçam-se em desenvolver compostos voltados para genes e mutações específicas responsáveis pelo crescimento do câncer.
Mais de 20 drogas do tipo chegaram ao mercado. Outros 800 medicamentos, voltados a cerca de 300 genes estão em desenvolvimento, diz John Mendelsohn, presidente do University of Texas MD Anderson Cancer Center. A metodologia produziu alguns dos remédios mais caros já vistos: o Erbitux, droga contra o câncer de cólon da Bristol-Myers Squibb e Eli Lilly, por exemplo, cujo tratamento típico de 16 semanas custa US$ 40 mil. Pesquisas recentes, no entanto, mostram que mesmo essas drogas específicas normalmente estendem a vida apenas por alguns meses, antes de os tipos de câncer encontrarem formas de apresentar mutações além de seu alcance.
Os grandes laboratórios, portanto, agora adotam uma nova abordagem, o uso de duas drogas experimentais que ataquem simultaneamente o câncer de duas formas diferentes. Essa marcação dupla deixa as células cancerígenas desestabilizadas, deixando mais lenta sua capacidade de adaptar-se às drogas e, com sorte, impedindo sua capacidade de disseminar-se. Nas palavras de George Sledge Jr., oncologista no centro de câncer da Indiana University, para manter o câncer sob controle por mais tempo, os médicos precisam de "uma espingarda mágica carregada com munições direcionadas a alvos múltiplos, em destinos múltiplos", não apenas de uma "bala mágica".
Além do avanço na saúde, dobrar o uso desses tratamentos dispendiosos poderia ser um verdadeiro tônico para os fabricantes de drogas contra o câncer, maior segmento farmacêutico, com vendas anuais de US$ 56 bilhões
Merck e AstraZeneca foram as primeiras a juntar forças para testar dois medicamentos como terapia única
Em 2009, a Merck e a AstraZeneca tornaram-se as primeiras concorrentes a juntar forças para testar dois medicamentos experimentais como terapia única contra a doença. De início, a ideia é criar um tratamento para o câncer de pulmão. Seus testes combinam uma droga da Merck, que trabalha contra a proteína chamada AKT, que promove a progressão do câncer, com uma da AstraZeneca, que combate uma molécula que contribui para o crescimento dos tumores. No passado, as empresas que buscavam uma terapia para complementar a sua própria a tentavam elaborar internamente, diz Gary Gilliland, chefe de oncologia da Merck. Isso podia levar anos. Agora, os laboratórios farmacêuticos cada vez mais recorrem a rivais para acelerar o lançamento dos tratamentos no mercado.
"Nossa perspectiva é que se tivermos um mecanismo que achamos ser complementar com o que outra empresa tem, vamos combinar as coisas", afirma. "A esperança é curar o câncer e, no mínimo, deixar o câncer em suspenso por um período mais longo."
Pouco menos de dez empresas vêm combinando forças para compartilhar medicamentos. Em 2010, a Sanofi concluiu que suas drogas contra uma molécula relacionada ao câncer, chamada PI3K, poderiam funcionar melhor em combinação com um composto desenvolvido pela Merck KGaA, da Alemanha. Em dezembro, as empresas acertaram o desenvolvimento conjunto dos remédios. Em junho, a Bristol-Myers Squibb combinou seu remédio Yervoy com outro tratamento para câncer de pele, da Roche. As empresas pretendem iniciar estudos conjuntos até o fim do ano. (O Yervoy é a única combinação de drogas aprovada para venda até agora.)
"Vejo mais e mais colaboração no futuro entre as empresas farmacêuticas", diz Paolo Paoletti, presidente da unidade de oncologia da GlaxoSmithKline, que testa uma de suas drogas com um medicamento complementar da Novartis. "No fim das contas, é a coisa certa a se fazer pelos pacientes", diz o executivo.
Isso representa uma mudança para os laboratórios farmacêuticos. "Agora, temos de colaborar com drogas que são novas, com direitos protegidos e que ainda não são aprovadas, o que deixa a todos nós tensos", diz Deborah Dunsire, executiva-chefe da Millennium Pharmaceuticals, da Takeda Pharmaceutical. "Mas não podemos continuar desperdiçando drogas potencialmente boas, porque não possuem ação suficiente como agente único."
A forma como os medicamentos combinados serão comercializados vai depender de se as autoridades reguladoras os aprovarem como compostos separados ou como tratamento único.
Há preocupações quanto à combinação. "O problema é que quanto mais drogas forem combinadas, mais caras vão ficar", diz Les Funtleyder, analista da Miller Tabak. "Pacientes e os compradores buscam melhor valor pelo seu dinheiro. No fim das contas, essa combinações terão de provar seu valor."
Jornalista: Robert Langreth - Valor Econômico