terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Roche estuda transformar Brasil em centro de desenvolvimento


Brasil e China responderam juntos pelo maior crescimento de vendas do grupo farmacêutico Roche em 2010. Integrantes da chamada divisão Internacional – que exclui EUA, Europa e Japão –, os dois países puxaram a expansão de 11% para a divisão farmacêutica e 16% da diagnóstica da região, enquanto, em mercados como o norte-americano, as subidas foram de 4% e 5%, respectivamente. Para este ano, a expectativa é de que os dois mercados emergentes continuem a liderar o crescimento das vendas da companhia suíça no mundo, com desempenho acima da média do mercado, avança o portal brasileiro iG.

Com os números em franca expansão, a Roche estuda – a longo prazo – uma mudança no perfil dos negócios no Brasil. Segundo Severin Schwan, presidente mundial do grupo, há planos de investimentos futuros para transformar o país num centro de investigação e desenvolvimento da farmacêutica.

“O Brasil, assim como os outros mercados emergentes, estão a desenvolver-se muito bem”, disse Schwan a um grupo de jornalistas brasileiros, após a divulgação do balanço anual da companhia, na semana passada, em Basileia (Suíça). “O mercado brasileiro ganha maior proporção e a actividade comercial também. A partir daí, começamos a olhar para novos investimentos”, completou.

Na avaliação do executivo, o mercado brasileiro está numa curva ascendente e caminha, agora, para o processo de formação de mão-de-obra qualificada. “O Brasil tem bons oncologistas. Claro que no país, em geral, o padrão médico ainda não é comparável ao dos países desenvolvidos, porque há muitas pessoas que ainda não podem pagar e não têm acesso a medicamentos de alta qualidade”, comparou.

Segundo Adriano Treve, presidente da divisão farmacêutica da Roche no Brasil, há planos para a realização de pesquisas de medicamentos biológicos – produzidos a partir de células vivas e não por processos químicos – no Brasil. “Podemos trazer o desenvolvimento de moléculas. Estamos a fazer isso com ensaios clínicos e, talvez, possamos ir para fase I (a primeira etapa de produção de um medicamento) para ter desenvolvimento no país”, disse.

"Claro que não dá para termos uma fábrica de Avastin® [medicamento biológico usado no tratamento do cancro] no Brasil, mas alguns passos da produção biológica podem ser feitos aqui. Vamos avaliar em qual processo vamos investir", completou Treve.

Entretanto, o executivo ressaltou que os planos de investimentos ainda estão em fase inicial de discussões. “Trata-se de um processo inovador, que requer tempo, recursos, cientistas, laboratórios e logística para atrair os investimentos”.

Enquanto os próximos passos não são definidos, a farmacêutica não prevê investimentos para a unidade brasileira, localizada em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, este ano. Adriano Treve explica, por outro lado, que a fábrica é “uma parte essencial para os negócios da Roche no Brasil, mas não estão previstos grandes investimentos”, disse.

O responsável condicionou os novos aportes às decisões sobre a produção de medicamentos biológicos. “Tudo vai depender do rumo que as coisas tomarão”.

A unidade do Rio de Janeiro chegou a ser colocada à venda em 2009, depois de a Roche ter adquirido a empresa norte-americana de biotecnologia Genentech, em Março desse ano, por 46,8 mil milhões de dólares.

Concorrência chinesa

Na “luta” indirecta com a China, o Brasil pode ter vantagem e tornar-se um destino mais atractivo para os investimentos da farmacêutica, segundo Treve. Mas, para isso, disse o responsável, é necessário “diminuir a burocracia”.

Severin Schwan destacou a importância do ambiente de negócios para investimentos na indústria brasileira. “Só podemos ter sucesso se as patentes forem muito protegidas”, disse. Schwan explicou que na China há um rigor com a protecção de patentes, “então, toda a indústria de medicamentos foi para lá”. Por outro lado, exemplificou, na Índia, o processo é inverso, devido à facilidade de quebra das patentes. “Tem a produção de genéricos, mas não tem produtores verdadeiramente inovadores a ir para lá”.

Para Pedro Gonçalves, presidente da divisão de diagnósticos da Roche do Brasil, o mercado chinês não é visto como concorrente do Brasil: “Vemos o mercado chinês como um espaço de oportunidades para novos negócios, com um mercado consumidor muito grande e com muito potencial de crescimento para nossas soluções”.