terça-feira, 26 de outubro de 2010
Roche pretende expandir negócios indo além de medicamento especializado
A Roche está planejando uma grande iniciativa para expandir seus negócios para além do seu enfoque histórico em remédios para câncer, se os resultados dos tratamentos experimentais para uma gama mais ampla de doenças se mostrarem favoráveis, diz Severin Schwan, executivo-chefe.
O principal executivo da farmacêutica suíça manifestou disposição de prover recursos dispendiosos para experimentos clínicos de estágio final para uma gama de novas drogas para o tratamento de inflamações, sistema nervoso central e distúrbios do metabolismo. Ele rejeita o conceito de seguir a guinada promovida por seus rivais para além dos medicamentos prescritos e diagnósticos patenteados, penetrando no campo dos genéricos, dos produtos de consumo para a saúde e outras atividades menos arriscadas.
"Um grande número de pessoas chama isso de diversificação", diz. "Eu defino isso como render-se. Pode me chamar de parcial, mas realmente acredito que temos um dos melhores fluxos de gestação de produto do setor." Ele prefere dar destaque à manutenção do sólido comprometimento da Roche em novos investimentos na pesquisa e desenvolvimento de novas drogas, que consomem cerca de 21% da receita da companhia.
A passagem para novas áreas de terapia poderia marcar uma mudança em relação ao consagrado enfoque estratégico da Roche, em medicamentos de combate ao câncer, que responderam por 57% das vendas no primeiro semestre do ano. Schwan afirma, porém, que os tratamentos oncológicos continuarão constituindo a espinha dorsal do grupo. A mudança para novas áreas exigirá que a companhia encontre parceiros ou crie um contingente de vendas maior para distribuir os remédios, para além de um pequeno grupo de especialistas em câncer, que permitiu à Roche limitar os elevados custos de marketing e táticas agressivas, pelas quais os seus pares têm sido criticados.
A expansão ocorre num momento que a Roche sofreu revezes nos últimos meses com os usos do seu principal medicamento contra câncer, o Avastin, abatendo o preço da ação. Esse fato, aliado à agressiva pressão de políticas de preço nos EUA e especialmente na Europa, levaram a companhia a lançar um programa de redução de custos.
Schwan, um advogado que se tornou executivo-chefe em 2008, estava animado com os resultados iniciais obtidos com experimentos de novos remédios para tratamento da esclerose múltipla, artrite reumatoide e esquizofrenia. "Vamos aonde a ciência nos levar." Ele alerta que os órgãos reguladores precisam se atualizar com as práticas clínicas em evolução, manifestando frustração com a experiência recente da companhia com o FDA (órgão regulador americano) em torno do uso de testes genéricos para direcionar melhor o uso do Tarceva, seu medicamento de combate ao câncer.
A agência dos EUA exigiu novos testes para respaldar o uso de um diagnóstico da Roche que acompanha o Tarceva, pois os experimentos originais não usaram o teste. "Se os obstáculos do FDA para testes concomitantes de fabricantes como a Roche são elevados demais, esses testes serão oferecidos por serviços de laboratório que não são regulamentados pelo FDA." Ele saúda os apelos recentes feitos por Margaret Hamburg, a comissária do FDA, para reexaminar os dados exigidos para aprovação de remédios, e adverte sobre o que acredita ser uma maior influência política, na comparação com a European Medicines Agency (Agência Europeia de Medicamentos). "Os políticos pedem efeitos colaterais nulos quando se trata de fármacos. Os clínicos sabem que se trata da relação risco/benefício."
Estudos nos próximos meses mostrarão se Schwan poderá cumprir a sua visão de uma Roche mais diversificada. Por enquanto, o autoproclamado "otimista realista" deposita fé na inovação, à medida que cientistas procuram explorar a medicina genética. Ele cita como inspiração Max Planck, o físico que se recusou a dar ouvidos aos alertas dos seus pares, de estudar outra disciplina porque eles alegavam que o campo estava morto, e que prosseguiu, desenvolvendo a teoria quântica. "Estamos apenas começando a entender o que está acontecendo com as doenças."
Fonte: Valor Econômico